quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Um Novo Pedro...

...O coração psicológico de Pedro podia ser comparado ao solo à beira do caminho. Era rude, compactado, inflexível e sem grande cultura. Era impetuoso, irritado, tenso e especialista em reagir antes de pensar. Mas, ao contrário de Judas, era simples e transparente. Não dissimulava seus comportamentos, dizia o que pensava. Sua mente era um livro aberto. Sua emoção, instável, porém sincera. Ficava fácil descobrir o que estava por trás das suas intenções. Pedro atropelava Jesus com freqüência. Dizia coisas sem sua permissão. Colocava-o em situações difíceis, todavia suas reações eram carregadas de ingenuidade e não de maldade. Ele repetia os mesmos erros com freqüência porque não sabia se controlar. Pedro parecia um homem de extrema coragem, mas como não se interiorizava, não conhecia seus limites. Cortou a orelha de um soldado porque se apoiava na grandeza de Jesus. Porém, quando Jesus deixou de realizar seus atos sobrenaturais e optou pelo silêncio, a força de Pedro se evaporou no calor das dificuldades.Dentre os que andaram com Jesus, ninguém errou tanto quanto Pedro. Mas havia uma qualidade nele que sempre habitou nos grandes homens. Não tinha medo de errar, de chorar, de se entregar àquilo em que acreditava, de correr riscos para conquistar seus sonhos. Era rápido para errar e rápido para se arrepender e retornar ao caminho. Pedro fitava deslumbrado seu mestre. Sua personalidade era uma colcha-de-retalhos que foi trabalhada por Cristo. Era o mais velho entre os discípulos, mas também o que se colocava mais vezes como criança diante do seu mestre. Ele descobriu o segredo da arte de aprender. Esvaziou-se de seus paradigmas e preconceitos, não temeu ao novo, não teve medo de explorar o desconhecido. Quem não consegue esvaziar-se das próprias verdades, não consegue abrir as possibilidades dos pensamentos. Judas não soube aprender essa lição. Qualquer pessoa que perde a capacidade de se esvaziar e de se colocar como uma criança aventureira diante do desconhecido, torna-se estéril de novas idéias. Jesus tinha um grande cuidado com Pedro. Sabia que ele era precipitado, mas também que ele era sincero e franco. Certa vez, Jesus aproveitou a própria ansiedade de Pedro para ensinar-lhe. Quando os funcionários de Roma chegaram e perguntaram a ele se Seu Mestre paga imposto? Pedro, sem perguntar a Jesus, disse Sim. O mestre, paciente, enviou-o a pescar e disse que no primeiro peixe que fisgasse encontraria uma moeda para pagar imposto. Pescar com a vara era um exercício para sua paciência, e encontrar uma moeda na boca do peixe era um exercício para sua fé. Parecia algo impossível. Ele mesmo se questionava enquanto pescava: “Por que sou tão precipitado? Da próxima vez, fecho a boca.” Então pescou o peixe com a tal moeda e aprendeu a lição: Vou pensar antes de falar. Pedro falou muito, entretanto tornou-se um grande amigo do mestre da vida. Os miseráveis sempre amaram mais Jesus do que os que se consideravam justos. Os que falharam e tiveram coragem de reconhecer suas
fragilidades não eram colocados em segundo plano, ao contrário, cultivavam um íntimo relacionamento com Ele.Todos nós estamos, de alguma forma, representados na história de Pedro. Quem não tem atitudes como às de Pedro? Quem não é escravo do medo quando se está doente ou correndo risco de morte? Quem não é tomado pela ansiedade quando ofendido, ameaçado, pressionado? Quem nunca negou as próprias convicções diante das tempestades da vida?Desconfie das pessoas que não reconhecem suas fraquezas. Todos nós temos nossos limites. Muitos dos que se julgam estáveis e seguros, não suportam situações imprevisíveis. Uma crise financeira é capaz de roubar-lhes a tranqüilidade. Uma crítica os leva a reações intempestivas. Pedro era ansioso, mas não volúvel. Seu caráter era sólido. Se vivêssemos naquele tempo, muitos de nós não cometeríamos o erro de Pedro, simplesmente, porque não teríamos sequer coragem de entrar naquele pátio. O jovem irritado e insensível tornou-se um poeta da solidariedade.
Termina sua mais longa carta sem críticas, cobranças, sem apontar defeitos. Nunca o amor curou tantas feridas da alma. Nunca se soube de alguém que aprendeu tanto, tendo tão pouco. O apóstolo Pedro tornou-se também um Mestre da vida. Graça e paz!

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